O voto parlamentar secreto consagra a irresponsabilidade, a fraude e a covardia.
É voto irresponsável porque à sombra do sigilo o parlamentar não tem de dar conta de sua conduta a quem quer que seja.
É voto fraudulento porque permite que o parlamentar traia inteiramente o mandato que lhe foi conferido e, através dessa traição, fraude a vontade do eleitorado. Debaixo do manto do voto secreto toda uma casa legislativa pode divorciar-se inteiramente da opinião pública tomando, em face dela, uma decisão não apenas minoritária, mas fragorosamente minoritária.
O voto parlamentar secreto é covarde porque, no refúgio do biombo, o representante do povo está dispensado do seu compromisso de retidão e moralidade.
O parlamentar que precisa de voto secreto para expressar-se não merece confiança. Não seria prudente que o dono de uma banca que vende bananas confiasse a ele a guarda da banca enquanto o quitandeiro tivesse de se afastar para fazer uma coisa qualquer.
Diferente do voto parlamentar secreto é o voto secreto do cidadão comum. O cidadão não tem de dar conta do seu voto a ninguém, senão a sua própria consciência. O voto secreto que se assegura ao eleitor é uma garantia de liberdade, é uma conquista democrática.
Como o grito de “Diretas Já” representou a reconquista do espaço democrático que fora surrupiado do povo em 1964 e totalmente banido em 1968, agora o grito de “Voto aberto já” pode devolver ao Parlamento brasileiro a dignidade que lhe é indispensável e que está sendo perdida por comportamentos absolutamente antiéticos de maiorias parlamentares que se escondem no anonimato coletivo por falta de hombridade para mostrar a própria face.